Com a eleição do presidente Jair Bolsonaro em 2018, os políticos neopentecostais passaram a ocupar cargos importantes no governo, incluindo a pastora evangélica Damares Alves como ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Recentemente, Alves provocou protestos públicos quando interferiu pessoalmente no caso de uma menina de dez anos de idade que procurou o aborto legal após ser estuprada por seu tio, mobilizando várias instituições estatais para tentar impedir o procedimento médico. Eventualmente, a menina teve que ser transferida para outro estado para realizar o aborto legal.
Na política externa, a eleição de Bolsonaro provocou uma reviravolta de 180 graus na posição do país. Até então reconhecido mundialmente como um defensor do universalismo dos direitos humanos, o Brasil fez da luta contra a "ideologia de gênero" uma de suas bandeiras principais, fortalecendo assim seus laços com a Arábia Saudita, Egito e Iraque.
Polônia: fundamentalismo religioso católico
A Polônia é outro ator importante na luta internacional contra a justiça reprodutiva. Em 2019-20, a reeleição do ultra-conservador Andrzej Duda como presidente e a maioria parlamentar conquistada pelo partido nacional-conservador PiS (Lei e Justiça) solidificaram o domínio da direita sobre os principais órgãos políticos da Polônia.
A relação estreita e há muito estabelecida entre o governo e a Igreja Católica Polonesa tem se tornado cada vez mais evidente nos últimos anos. Ao lado do PiS, o grupo de lobby jurídico Ordo Iuris e a "ativista anti-aborto" Kaja Godek, chefe da Fundação Vida e Família, representam os dois principais atores na luta contra o aborto.
Essas organizações cristãs de direita radical concentram-se em questões como divórcio, contracepção, acesso ao aborto e orientação sexual. Os especialistas da Ordo Iuris ocupam (ou já ocuparam) cargos no governo, incluindo a Suprema Corte e o Ministério das Relações Exteriores.
Além do lobby na política interna, esses grupos também fazem parte de uma rede global de organizações cristãs fundamentalistas que envolve o movimento secreto de enormes somas de dinheiro entre países-chave, incluindo Brasil, França, Polônia e EUA. Em particular, a Ordo Iuris tem laços estreitos com o movimento Tradição, Família e Propriedade (TFP) no Brasil.
O acesso ao aborto é um alvo chave para estes grupos e uma das principais questões da sociedade civil na Polônia. No centro destas controvérsias está o aborto por deformidade fetal - o chamado "aborto eugênico" - que atualmente representa 98% de todos os abortos legais realizados na Polônia. Em outubro de 2020, o Tribunal Constitucional polonês considerou esta isenção como inconstitucional, e em janeiro de 2021 a sentença se tornou lei, colocando assim uma proibição de fato ao aborto no país.
Egito: regulamentação estatal e moral pública
Quanto ao Egito, a influência das perspectivas conservadoras e religiosas sobre questões sexuais e reprodutivas aumentou na era pós-colonial. Desde 1923, as constituições egípcias contêm artigos que estabelecem a família heterossexual como a "unidade básica da sociedade".
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