A internet tornou-se o novo "espaço da aparência", o palco onde acontecem todas as guerras e disputas ideológicas contemporâneas. Nosso acesso cada vez mais imediato a esse espaço, seu uso diário e quase constante e sua proximidade física conosco, através de nossas várias telas, conferem-lhe o poder de se tornar uma extensão de nosso próprio corpo perceptivo e cognitivo.
Mas ainda não conseguimos domar e dominar esse matriz em constante mudança para a qual fomos empurrados, devido a que esse espaço também reconfigura radicalmente as interrelações entre subjetividade, opinião pública e poder político. De fato, nos últimos anos assistimos ao surgimento do fake, usado para tribalizar e dividir a população. O problema começa quando abandonamos os padrões usuais de apresentação de provas para fundamentar opiniões e afirmações, dando lugar a narrativas simplificadas e propagandas clickbait, anunciadas para influenciar e mobilizar facilmente a população contra determinados setores ou indivíduos.
Os quatro protagonistas da série “Resistências” foram vítimas de uma campanha de difamação altamente coordenada, cujo objetivo era silenciar e neutralizar as vozes da esfera intelectual e artística da sociedade brasileira, tornando visíveis os usos ilegítimos das novas tecnologias para fins políticos de repressão e perseguição política. Expostos a um turbilhão de ataques homofóbicos e misóginos intensamente violentos, os protagonistas foram forçados ao exílio quando as intimidações se transformaram em ameaças de morte explícitas.
Para quê? Quais foram as razões para fazer girar máquinas tão agressivas? O "crime" da filósofa, escritora e pintora Marcia Tiburi foi condenar publicamente o golpe de 2016, defendendo os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva; Jean Wyllys, político, ativista, jornalista e artista visual, denunciou o assassinato de Marielle Franco como ato de intimidação contra minorias e lançou campanha no Twitter para denunciar a negação genocida de Jair Bolsonaro contra a pandemia de Covid-19; o artista Wagner Schwartz encenou uma performance intitulada "La Bête", nu, em um museu, sendo acusado de pedofilia e difamado ao ponto de receber ameaças de morte; e Debora Diniz, professora universitária e ativista feminista, compareceu perante o Supremo Tribunal Federal (STF) para defender a descriminalização do aborto, tornando-se alvo de ataques da extrema-direita.
Comentários
Aceitamos comentários, por favor consulte ás orientações para comentários de openDemocracy